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Dono da Academia

Sujeito Homem

A rotina de João era um retrato da exaustão diária. Acordava antes do sol romper o horizonte, por volta das 5h30, com o corpo ainda pesado do dia anterior. O café da manhã era invariavelmente rápido e funcional: um pão com manteiga e um gole apressado de café preto, a energia mínima necessária para encarar a jornada.

Às 6h15, já estava no ponto de ônibus, disputando um lugar em meio a outros trabalhadores sonolentos. O trajeto até a fábrica de móveis, na periferia da cidade, levava quase uma hora. Lá, João operava máquinas pesadas, cortando e lixando madeira sob o barulho ensurdecedor e a poeira constante. Seus músculos, embora não definidos, eram fortes de tanto esforço repetitivo, mas a postura curvada e as dores nas costas eram companheiras constantes.

O almoço era um intervalo breve e solitário. Marmita requentada no micro-ondas da fábrica, engolida rapidamente para aproveitar cada minuto de descanso antes de retornar ao trabalho. A tarde seguia o mesmo ritmo frenético da manhã, com metas de produção apertadas e a pressão constante para manter a linha funcionando.

Por volta das 17h30, finalmente pegava o ônibus de volta para casa, o cansaço estampado no rosto e em cada movimento. Ao chegar em seu pequeno apartamento alugado, a lista de tarefas domésticas o esperava: preparar o jantar, lavar a roupa, dar uma geral na casa. Sua esposa, Maria, também chegava exausta do trabalho como caixa de supermercado. Dividiam as tarefas em silêncio, cada um imerso em seu próprio cansaço.

As noites eram dedicadas a cuidar dos dois filhos pequenos, ajudar com o dever de casa, colocar eles para dormir. Sobrava pouco tempo para um jantar decente, geralmente algo rápido e prático. Por volta das 22h, exausto e com o corpo dolorido, João finalmente se jogava na cama, apenas para recomeçar o ciclo no dia seguinte.

A ideia de frequentar uma academia nunca sequer cruzava sua mente como uma possibilidade real. O tempo livre era um luxo que ele não podia se permitir. Cada minuto era preenchido com as obrigações da vida, a luta diária para garantir o sustento da família. Seu corpo, embora não modelado por exercícios específicos, carregava as marcas de uma rotina árdua e incessante, uma prova silenciosa de seu trabalho duro e da falta de tempo para cuidar de si mesmo de outras maneiras.